Humanos, natureza, luz e tecnologia fundamentam mostra do Studio Drift no CCBB Brasília

DRIFT Ego The Shed 2021 Dario Lasagni

Esculturas, instalações e performances que sintonizam pessoas, ambiente e natureza na mesma frequência. Este caleidoscópio é o fundamento das obras de Lonneke Gordijn e Ralph Nauta, que sugerem ao público uma reconexão com o planeta com a luz como pilar. O resultado deste hibridismo estará presente na exposição “Studio Drift – Vida em Coisas“, que ocupa as galerias 1, 2, 5 e o Pavilhão do Vidro do CCBB Brasília, de 28 de novembro a 21 de janeiro de 2024, com entrada franca.

2008 Banquete Chair Fernando Laszlo

Mundialmente conhecidos, Lonneke Gordijn e Ralph Nauta, criaram Drift em 2007, na Holanda e hoje comandam uma equipe multidisciplinar de 64 pessoas nos estúdios em Amsterdã e Nova York. O pool criativo centraliza as atenções nas relações dos seres humanos com a natureza e a tecnologia. De forma simples e ao mesmo tempo profunda, abordam formas positivas do uso da tecnologia para evidenciar fenômenos naturais e da sociedade.

A mostra provoca de maneira lúdica e futurista um relance que reflete o relacionamento onde a mútua troca entre pessoas e máquinas prevalece. A perspectiva interdependente lança o olhar sobre o intercâmbio complementar que respeita o entorno e se adapta com vistas à evolução. Um contraponto ao zeitgeist do incontrolável poder manipulador e doentio das redes sociais e do mundo digital atualmente.

DRIFT Amplitude Coded Nature exhibition Stedelijk Museum 2018 Ronald Smits

A palavra “drift”, em inglês, quer dizer “à deriva” ou “estar à mercê”, mas a prática do grupo revela como essas expressões podem fazer parte de um processo ativo e criativo onde esculturas multidisciplinares de luz evocam uma visão utópica e crítica do futuro do nosso planeta, em que duas formas de evolução aparentemente opostas realizam um pacto de sobrevivência. 

DRIFT Fragile Future Cidade Matarazzo Brazil

“Existe uma lógica por trás da obra deles, que é a possibilidade de a natureza e a tecnologia poderem viver em harmonia. Seja pelo mundo biônico, seja pelo conceito de animismo, em que todas as coisas – animais, fenômenos naturais e objetos inanimados – possuem um espírito que os conecta uns aos outros. É uma construção antropológica, usada para identificar traços comuns de espiritualidade entre diferentes sistemas de crenças”. Afirma Marcello Dantas, que assina a curadoria ao lado de Alfons Hug.

“Os artistas do Drift levam a arte para perto do cotidiano e criam cenários precários em calabouços escuros, onde uma tímida lâmpada reflete a imagem do que seria a miséria do mundo e da existência”. Convoca Alfons Hug.

“Estamos muito interessados na interação entre movimentos naturais e seres humanos e usamos a tecnologia para permitir isso. Nossas obras representam processos e movimentos que nós experimentamos na natureza e no próprio corpo.”, observa Lonneke.

DRIFT Fragile Future Stedelijk Museum Foto Gert Jan van Rooij

Alfons Hug explica que ao escolher a luz como elemento central de suas composições artísticas, Drift “nos faz pensar no mundo de hoje, mas também em nossas origens, pois esta luz vem de longe e contém um vislumbre do passado remoto”.

Circuitos elétricos tridimensionais, de bronze, ficam conectados a sementes da planta dente-de-leão, que emitem luzes. Trata-se de uma escultura com forma potencialmente infinita, que pode crescer ou encolher, dependendo do espaço que ocupa. Para a construção, a dupla recorreu a sementes que, uma a uma, receberam luzes de LED, num processo artesanal que resiste aos métodos de produção em massa e à cultura do descarte. A instalação estará presente na galeria 1.

O comportamento das flores que, durante a noite, se fecham, numa medida de proteção e de economia de recursos, é apresentada na escultura hipnótica Shylight (algo como “luz tímida”, se traduzido para o português) que será instalada no Pavilhão de Vidro.

Se grande parte dos objetos feitos pelos homens tendem a ter uma forma fixa, o projeto do Drift, neste caso, é recuperar a ideia de que, na natureza, tudo está em constante metamorfose e adaptação. Assim, os objetos animados ganham a força de expressar, caráter e emoção. 

DRIFT Shylight Art Basel Miami 2021 Ossip van Duivenbode

A escultura Ego, que teve uma primeira versão criada para compor o cenário da ópera Orfeu, representa a rigidez da produção da humanidade e o quanto é importante que essa produção se torne fluida, para que não colapse. 

A obra, que será montada na galeria 2 do CCBB, questiona o quanto nossas esperanças, verdades e emoções são resultado direto da rigidez ou da fluidez de nossa mente. Um bloco de fibra de náilon oscila, graças à ação de oito motores e um algoritmo desenvolvido especialmente para a obra, acompanhada de uma composição especialmente feita pelos artistas. 

Na Galeria 1, o papel humano na construção dos significados é abordado na série Materialism, na qual peças em formato de blocos comprimem objetos. Os materiais ganham uma forma condensada, instigando a imaginação sobre o papel humano na transformação da natureza. 

Neste projeto contínuo, o público pode conferir as obras: Fusca Volkswagen, Jogo Game Boy, Lápis, Cabo Elétrico, Bicicleta, Pandeiro e Havaianas. As duas últimas foram criadas especialmente para a mostra brasileira, assim como Banquete, parceria de DRIFT com os designers brasileiros do Estúdio Campana, Humberto e Fernando Campana.

Também fazem parte da mostra as peças Amplitude, Franchise Freedom, Coded Nature, Drifters, Dandelight e Making of DRIFT, uma instalação com peças que mostra uma espécie de “making of” do trabalho da dupla. 

O curador Marcello Dantas explica que existe uma racionalidade por trás das obras do DRIFT, que é a possibilidade da natureza e da tecnologia viverem em harmonia. “Seja pelo mundo biônico, seja pelo conceito de animismo, em que todas as coisas – animais, fenômenos naturais e objetos inanimados – possuem um espírito que os conecta uns aos outros”.

O animismo em DRIFT significa, por exemplo, transformar um robô numa flor, revelando o encontro entre “a projeção que fazemos das coisas e aquilo que elas potencialmente podem ser”, complementa Dantas. “Ao estudar os seres vivos e tentar emular artificialmente seu comportamento, passamos a criar uma escuta e uma linguagem que, em alguma dimensão simbólica, podem ser sincronizadas”.

Além de Brasília Studio Drift – Vida em Coisas pôde ser conferida nas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, superando 400 mil visitantes. A mostra é patrocinada pelo Banco do Brasil e BB Asset Management. Ingressos gratuitos, disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB Brasília.

DRIFT Shylight Rijksmuseu FotoPetra Erik Hesmerg

Studio Drift – Vida em Coisas
De 28 de novembro de 2023 a 21 de janeiro de 2024, das 09h às 21h
Galerias 1, 2, 5 e Pavilhão de Vidro do CCBB Brasília
Classificação indicativa: Livre
Ingressos em www.bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB Brasília
Entrada Gratuita