Esculturas, instalações e performances que sintonizam pessoas, ambiente e natureza na mesma frequência. Este caleidoscópio é o fundamento das obras de Lonneke Gordijn e Ralph Nauta, que sugerem ao público uma reconexão com o planeta com a luz como pilar. O resultado deste hibridismo estará presente na exposição “Studio Drift – Vida em Coisas“, que ocupa as galerias 1, 2, 5 e o Pavilhão do Vidro do CCBB Brasília, de 28 de novembro a 21 de janeiro de 2024, com entrada franca.
Mundialmente conhecidos, Lonneke Gordijn e Ralph Nauta, criaram Drift em 2007, na Holanda e hoje comandam uma equipe multidisciplinar de 64 pessoas nos estúdios em Amsterdã e Nova York. O pool criativo centraliza as atenções nas relações dos seres humanos com a natureza e a tecnologia. De forma simples e ao mesmo tempo profunda, abordam formas positivas do uso da tecnologia para evidenciar fenômenos naturais e da sociedade.
A mostra provoca de maneira lúdica e futurista um relance que reflete o relacionamento onde a mútua troca entre pessoas e máquinas prevalece. A perspectiva interdependente lança o olhar sobre o intercâmbio complementar que respeita o entorno e se adapta com vistas à evolução. Um contraponto ao zeitgeist do incontrolável poder manipulador e doentio das redes sociais e do mundo digital atualmente.
A palavra “drift”, em inglês, quer dizer “à deriva” ou “estar à mercê”, mas a prática do grupo revela como essas expressões podem fazer parte de um processo ativo e criativo onde esculturas multidisciplinares de luz evocam uma visão utópica e crítica do futuro do nosso planeta, em que duas formas de evolução aparentemente opostas realizam um pacto de sobrevivência.
“Existe uma lógica por trás da obra deles, que é a possibilidade de a natureza e a tecnologia poderem viver em harmonia. Seja pelo mundo biônico, seja pelo conceito de animismo, em que todas as coisas – animais, fenômenos naturais e objetos inanimados – possuem um espírito que os conecta uns aos outros. É uma construção antropológica, usada para identificar traços comuns de espiritualidade entre diferentes sistemas de crenças”. Afirma Marcello Dantas, que assina a curadoria ao lado de Alfons Hug.
“Os artistas do Drift levam a arte para perto do cotidiano e criam cenários precários em calabouços escuros, onde uma tímida lâmpada reflete a imagem do que seria a miséria do mundo e da existência”. Convoca Alfons Hug.
“Estamos muito interessados na interação entre movimentos naturais e seres humanos e usamos a tecnologia para permitir isso. Nossas obras representam processos e movimentos que nós experimentamos na natureza e no próprio corpo.”, observa Lonneke.
Alfons Hug explica que ao escolher a luz como elemento central de suas composições artísticas, Drift “nos faz pensar no mundo de hoje, mas também em nossas origens, pois esta luz vem de longe e contém um vislumbre do passado remoto”.
Circuitos elétricos tridimensionais, de bronze, ficam conectados a sementes da planta dente-de-leão, que emitem luzes. Trata-se de uma escultura com forma potencialmente infinita, que pode crescer ou encolher, dependendo do espaço que ocupa. Para a construção, a dupla recorreu a sementes que, uma a uma, receberam luzes de LED, num processo artesanal que resiste aos métodos de produção em massa e à cultura do descarte. A instalação estará presente na galeria 1.
O comportamento das flores que, durante a noite, se fecham, numa medida de proteção e de economia de recursos, é apresentada na escultura hipnótica Shylight (algo como “luz tímida”, se traduzido para o português) que será instalada no Pavilhão de Vidro.
Se grande parte dos objetos feitos pelos homens tendem a ter uma forma fixa, o projeto do Drift, neste caso, é recuperar a ideia de que, na natureza, tudo está em constante metamorfose e adaptação. Assim, os objetos animados ganham a força de expressar, caráter e emoção.
A escultura Ego, que teve uma primeira versão criada para compor o cenário da ópera Orfeu, representa a rigidez da produção da humanidade e o quanto é importante que essa produção se torne fluida, para que não colapse.
A obra, que será montada na galeria 2 do CCBB, questiona o quanto nossas esperanças, verdades e emoções são resultado direto da rigidez ou da fluidez de nossa mente. Um bloco de fibra de náilon oscila, graças à ação de oito motores e um algoritmo desenvolvido especialmente para a obra, acompanhada de uma composição especialmente feita pelos artistas.
Na Galeria 1, o papel humano na construção dos significados é abordado na série Materialism, na qual peças em formato de blocos comprimem objetos. Os materiais ganham uma forma condensada, instigando a imaginação sobre o papel humano na transformação da natureza.
Neste projeto contínuo, o público pode conferir as obras: Fusca Volkswagen, Jogo Game Boy, Lápis, Cabo Elétrico, Bicicleta, Pandeiro e Havaianas. As duas últimas foram criadas especialmente para a mostra brasileira, assim como Banquete, parceria de DRIFT com os designers brasileiros do Estúdio Campana, Humberto e Fernando Campana.
Também fazem parte da mostra as peças Amplitude, Franchise Freedom, Coded Nature, Drifters, Dandelight e Making of DRIFT, uma instalação com peças que mostra uma espécie de “making of” do trabalho da dupla.
O curador Marcello Dantas explica que existe uma racionalidade por trás das obras do DRIFT, que é a possibilidade da natureza e da tecnologia viverem em harmonia. “Seja pelo mundo biônico, seja pelo conceito de animismo, em que todas as coisas – animais, fenômenos naturais e objetos inanimados – possuem um espírito que os conecta uns aos outros”.
O animismo em DRIFT significa, por exemplo, transformar um robô numa flor, revelando o encontro entre “a projeção que fazemos das coisas e aquilo que elas potencialmente podem ser”, complementa Dantas. “Ao estudar os seres vivos e tentar emular artificialmente seu comportamento, passamos a criar uma escuta e uma linguagem que, em alguma dimensão simbólica, podem ser sincronizadas”.
Além de Brasília Studio Drift – Vida em Coisas pôde ser conferida nas unidades do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, superando 400 mil visitantes. A mostra é patrocinada pelo Banco do Brasil e BB Asset Management. Ingressos gratuitos, disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB Brasília.
Studio Drift – Vida em Coisas
De 28 de novembro de 2023 a 21 de janeiro de 2024, das 09h às 21h
Galerias 1, 2, 5 e Pavilhão de Vidro do CCBB Brasília
Classificação indicativa: Livre
Ingressos em www.bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB Brasília
Entrada Gratuita