A mostra Vértice, primeira mostra da série “Coleções”, reúne mais de 200 obras do acervo de arte contemporânea de Sérgio Carvalho, sob o olhar das curadoras Marília Panitz, Marisa Mokarzel e Polyanna Morgana. O Museu dos Correios recebe a exposição de 19 de junho a 6 de agosto, com entrada franca. De Brasília, a mostra segue para o Rio de Janeiro e São Paulo.
“Para cada obra, há uma história”. Essa máxima de Sérgio Carvalho, cuja coleção de arte contemporânea protagoniza a exposição Vértice – a primeira da série “Coleções” –, define bem o espírito da mostra: a apresentação de trabalhos de artistas brasileiros contemporâneos, selecionados por três curadoras de diferentes lugares e gerações, com o objetivo de trazer ao público um panorama da arte contemporânea brasileira, com base no intercâmbio de distintos olhares.
Ao apresentar ao espectador, simultaneamente, três visões curatoriais, Vértice propõe uma discussão sobre as inúmeras possibilidades de um acervo e da produção de um conjunto de artistas. A partir de visitas coletivas e da troca de informações com o colecionador, as curadoras começaram a delinear uma forma de “classificar” as obras no âmbito da exposição, que será apresentada em três “módulos”, sempre sujeitos à contaminação e deslocamentos: “Relatos, Construções e Assombros”.
“Relatos”, com curadoria de Marília Panitz, reúne obras que têm a ver com os deslocamentos para ver e “descrever” o mundo. Apresenta-se por meio de um viés político, antropológico e de desafio à abrangência das linguagens da arte, onde elas muitas vezes “invadem” outros campos de conhecimento. São trabalhos que apostam na produção em torno das relações espaço-tempo do homem na História, seus documentos (de cultura e barbárie) e na sua própria memória.
“Construções”, com curadoria de Polyanna Morgana, lança um olhar para as obras que se pautam pela herança histórica do artista russo construtivista Vladimir Tatlin (1914), que, em uma série de esculturas espaciais, elaborou uma reflexão sobre a obra de arte, indicando que esta era “construída”, não esculpida ou fundida, como ocorria nos modelos tradicionais de escultura. Participam fotografias, pinturas, esculturas, vídeos e instalações, onde é possível reconhecer uma tendência da arte – reflexiva e, por vezes, autocrítica – que se debruça sobre as condições de se arquitetar uma obra no mundo, enfatizando, neste processo, diversos aspectos físicos, formais, conceituais, históricos e institucionais.
“Assombros”, com curadoria de Marisa Mokarzel, constitui um espaço de segredos, veladuras que se espalham pelo lúdico e cruel das coisas, percorrendo lugares oníricos, de pesadelos, violências e delicadezas. Neste lugar instável a ficção e a realidade se atravessam. A palavra assombro aproxima-se tanto da condição de espanto como da de admiração, assim como mistérios, enigmas e estranhezas. Plural, o substantivo se expande e propaga diferentes ideias e sentimentos e essa multiplicidade dilata o conteúdo semântico que, associado à arte, permite o trânsito estético e conceitual das obras reunidas nesse eixo.
Vértice reúne pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações, num total de mais de 200 obras selecionadas entre as mais de 1.500 obras de arte contemporânea da coleção Sérgio Carvalho. Realizada pela 4 Art Produções Culturais, a mostra permanecerá no Museu dos Correios, em Brasília, de 18 de junho a 6 de agosto.
Residente em Brasília, Sérgio Carvalho, advogado, 54 anos, começou sua coleção de arte contemporânea em 2003, quando conheceu Nazareno, José Rufino, Eduardo Frota e Valéria Pena-Costa, que o apresentaram a outros artistas. Encantado com o universo poético de cada um deles, Carvalho resolveu vender as gravuras de Oswaldo Goeldi que possuía para comprar fotografias de Lucia Koch.
Hoje – 12 anos após iniciar sua coleção – Sérgio Carvalho reúne obras de alguns dos mais importantes artistas contemporâneos brasileiros, entre os quais Regina Silveira, Nelson Leirner, Iran do Espírito Santo, Efrain Almeida, Emmanuel Nassar, Hildebrando de Castro, Rubens Mano, Berna Reale, Jonathas de Andrade, Sofia Borges e Rodrigo Braga. Sua coleção demonstra que o colecionismo pode ser instigado pelo amor à arte e pela possibilidade do registro de um período das artes visuais de determinado tempo, não pela equivocada ideia de aquisição de commodities.
“Depois que me interesso por uma obra, procuro conhecer quem a fez. Raras as obras que eu não conheço, pessoalmente, o autor. Interessa o contato com o artista e o seu particular universo – real e poético. Esse modo de agir me fez, em verdade, colecionar amigos” – diz Sérgio. “Procuro adquirir um acervo significativo de cada um dos artistas que integram a coleção, algo entre dez e vinte obras. Gostaria de ter uma exposição individual de cada um” – resume.
Serviço: Exposição Vértice, da série “Coleções” – Estágio 1: Coleção Sérgio Carvalho
Local: Museu Nacional dos Correios (Setor Comercial Sul, quadra 4 – Bloco A, n° 256 – Ed. Apolo – Asa Sul)
Visitação: De 19 de junho a 6 de agosto
Horário: De terça a sexta, de 10 às 19 horas, sábados, domingos e feriados, de 12 às 18 horas
Entrada franca
Classificação indicativa: Livre.
Fotos: Amanda Melo. Isolante.
Daniel Murgel. Construindo Ruínas.