Joana Bentes lança disco de estreia “A Gota do Mar Contém o Oceano Inteiro”

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Fotos: Quéli Unfer.

Fruto do isolamento social, “A gota do mar contém o oceano inteiro” (2021, Independente) nasce como o primeiro álbum cheio de Joana Bentes, após o EP de estreia Entre (2016) e os cinco singles lançados de 2017 a 2020.

Gravado e produzido em casa por Joana durante a pandemia, o novo trabalho mostra o percurso emocional da artista neste momento e busca uma sonoridade fiel às composições e ao universo plural de referências, como pop, música brasileira, indie e world music.

Entre dezembro e janeiro, a artista lançou “Preciso Aprender a Só Ser” e “Kintsugi”, que ganhou um clipe surpreendente produzido pela JOB, em uma parceria com Silvia Ferreira e pela própria Joana, registro de uma performance de mesmo nome.

Essa última canção, que surgiu após a conceituação do álbum e traduzido na filosofia do kintsugi, indica o caminho e ordem das canções no disco. Longe de uma lógica específica, o trabalho foi sendo desenhado organicamente, a partir dos sentimentos que emergiram neste ano, como perda, angústia, ansiedade e, por outro lado, empatia, autoconhecimento, resignação. Novas composições nasceram frutos da tentativa de elaboração dessas sensações e, em outros momentos, o desejo de revisitar canções antigas com a experiência do agora. 

Com isso, dois eixos se formaram a princípio: o primeiro que trata de uma vivência das relações amorosas sobretudo no estágio da impossibilidade de se concretizar e do sofrimento por isso gerado, num tom bem confessional. Nele estão “Não Cabe Você”, balada pop; “Todo Dia”, R&B sensual, produzida por Barulhista; e “Saudade (Que Não é Ruim)”, com clara referência de Sade e reverência à Adriana Calcanhotto.

O segundo gira em torno de uma introspecção maior, na tentativa de se perceber e de experimentar um outro tipo de amor, consigo mesma e numa perspectiva mais global, que só acaba sendo possível a partir desse olhar gentil com o próprio processo, parte do todo. Integram “Ventania”, MPB indie com pitada beatle; “Preciso Aprender a Só Ser”, versão inusitada da canção de Gilberto Gil a partir de referências como Lianne La Havas, Hiatus Kaiyote e Djavan; e “Onde Ainda Vou”, com sonoridade mais brasileira e timbres orientais em uma letra otimista.

O disco se divide então em duas partes distintas, cada uma com três músicas, mas com possibilidade de habitar um mesmo universo. “Colocá-las juntas revelou o hiato, uma quebra de caminho natural. Não por acaso, “Kintsugi” vem como a transição entre essas duas etapas e vai além, pois nela também está contido o processo completo: a frustração, a aceitação e o perdão. A cola e o ouro”, conta a capixaba. 

Junto de “Kintsugi” e com o mesmo objetivo transitório está “Pra Ver a Voz”, de autoria de Flávio Tris, em uma versão especial num duo de Joana com seu parceiro musical e baixista desde Brasília, Rafael de Sousa. Singela, com força e caráter reflexivo-emocional já ditado pela letra, porém aprofundado de uma maneira ímpar pelas interpretações dos dois artistas. 

A trajetória poética de “A gota do mar contém o oceano inteiro” remonta pedaços emocionais de si, as histórias e lembranças se transformam em uma grande colcha de retalhos na qual é possível revisitar e contar a própria vida, como um filme que algumas pessoas dizem assistir quando passam por uma situação de quase-morte: “passou um filme da minha vida em segundos”, pontua a artista. Não ansiar a morte para se ver é aceitar a vulnerabilidade própria de viver. 

Em um período em que se vive uma situação limite numa esfera mundial, o encontro consigo mesma, proporcionado inclusive pelo isolamento social, pode ser visto como “o bônus da pandemia”. O retorno à essência, ao que não se pode viver sem, diz também da auto-aceitação, do autoamor, de “eu não posso viver sem mim”. A essência fundamental de existir.

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