Thiago Pethit abre o verbo.

Foto: Renato Acha.
Foto: Renato Acha.
Thiago Pethit é a atração do projeto Palco Criolina nesta segunda (1º de abril), quando lança seu segundo disco – Estrela Decadente – em Brasília, com canções em inglês e português. São nove faixas, sendo oito autorais e uma versão de Surabaya Johhny, de Bertolt Brecht e Kurt Weill.

O álbum tem produção de Kassin e transcende a música, como você pode conferir no bate papo que o Acha Brasília teve com o artista em São Paulo, durante a realização da São Paulo Fashion Week.

Acha – Você está muito engajado nas questões políticas relacionadas à Comissão de Direitos Humanos, presidida pelo Feliciano. Achei muito interessante um comentário que li em um post em que você fala que estamos vivendo em uma época parecida ao nazismo. Como a sua arte se relaciona com este movimento?

Pethit – “Eu comecei minha carreira como artista fazendo teatro e me formei em um tipo de teatro chamado de Brechtiano, com base nas peças do Bertold Brecht, que criou toda uma metodologia de interpretação, direção e linguagem.

O Brecht estava nos anos 20 e 30 na Alemanha e foi perseguido como comunista, como judeu e ele sempre falou sobre a sociedade. Quando eu fui fazer fazer música, levei muita da bagagem do teatro para a música, no que eu chamo de cabaré, que é uma coisa sempre mal compreendida pela maioria das pessoas, que falam ‘Ah cabaré é fofinho, Moulin Rouge…’

Mas quando eu falo em cabaré, trato de uma linguagem estética que reflete um período de decadência, sempre! Toda vez que o mundo, a sociedade e a economia entram em decadência, é quando surgem cabarés. Cabaré é um jeito de dizer outras coisas que aconteceram no mundo durante muito tempo.

Por exemplo, nos anos 70, nos Estados Unidos do pós-guerra, com a depressão econômica, formou-se a turma do Andy Warhol, o Velvet Underground, as travestis e os prostitutos que eram artistas. Isto era um cabaré que era o reflexo desta depressão. Enfim, isto tudo é muito cíclico, a economia sempre sobe e vai ao limite e cai.

Eu sinto que já faz tempo que isto vem acontecendo, não só no Brasil, mundialmente isto já vem acontecendo há algum tempo. A coisa de quando os europeus começaram a expulsar os ciganos e os estrangeiros. Acho que no mundo todo existem este reflexos desta moral da Idade Média, que insiste em existir e que vai consumindo a sociedade de um jeito que é invisível a nós de alguma maneira.

Quando se fala que o Feliciano é a ponta de um iceberg é porque a gente sabe que estes evangélicos que pedem a senha do cartão de crédito existem há muito tempo! Não estou falando de todos os evangélicos. A gente sempre lidou com isso como uma piada, tipo ‘Rá rá rá! Que engraçado! Que gente ignorante!’ Só que a gente vive em um mundo de ignorantes. O mundo não é de pessoas que sabem das coisas. O mundo é de ignorantes, porque só existe poder porque existem pessoas ignorantes. Senão todo mundo teria poder, todo mundo seria rico. Seria uma outra estrutura de mundo.

O capitalismo vence porque ele é sempre o poderoso e porque ele cria ignorantes. E a gente sempre menosprezou muito isto. Desde os anos 80 a gente sabe que isto existe. A gente vê na TV e fala: “Ai que piada!” E dá risada da Bispa Sônia. Mas no fundo a gente vive no Brasil em uma sociedade em que setenta por cento das pessoas são ignorantes e que a facilidade de um cara como esse, que é um Hitlerzinho, ou de caras como este, assumirem um poder muito maior, é imensa, porque tem muito mais gente ignorante querendo acreditar nisto do que pessoas que sabem das coisas. E as pessoas que sabem das coisas não se mexem.

No fundo toda esta questão da Comissão dos Direitos Humanos me tocou de um jeito muito profundo, porque eu já estava falando disto, porque meu trabalho desde o começo tem o intuito de querer falar disto. Então, eu me vi não podendo ficar quieto sobre este assunto. É interessante porque eu sinto que muitas pessoas começaram a entender do que eu estou falando, quando falo de cabaré, de uma arte que não seja careta, que não seja moralista, que seja ousada! No fundo, eu estou lutando contra esses caras, contra essas coisas, contra esse bando de ignorância. Enfim, acho que a gente está vivendo um momento bem pré-Nazismo mesmo! Eu estou tão irritado com este assunto!”

Foto: Gianfranco Briceño.
Foto: Gianfranco Briceño.

Acha – Ótimo! Eu queria que você desabafasse mesmo! Mas agora fale sobre a turnê e o show em Brasília.

Pethit – “A turnê está indo muito bem. Acho que este show é muito importante neste momento pra mim, por estas razões, pela contundência e com o que está acontecendo. Acho importante que seja provocativo. O disco e o show tem esta qualidade. Acho o máximo que vou fazer em Brasília no meio desse furdunço. No dia primeiro de abril (risos) Pode ser que o show nem aconteça.

O show é muito mutante e tem estado em constante alteração. De repente vou incluir alguns trechos da obra de Brecht no meio. É um show feito para isto, para se transformar a partir da necessidade de se dizer e explicitar coisas. Estou animando, todos os shows estão sempre lotados”.

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Foto: Gianfranco Briceño.

Acha – E as novas para o futuro?

“Eu vou fazer um novo videoclipe no segundo semestre, com direção do Heitor Dhalia. Vai ser o primeiro videoclipe dirigido por ele.

Tenho mil projetos na cabeça. Talvez eu lance um versão deluxe do disco. Pode ser em vinil. Estou planejando desdobramentos do álbum. Sinto que ‘Estrela Decadente’ é um disco que eu não quero tirar de vista logo. Não tenho vontade de fazer um disco novo. Quero estender o conceito das fotos que fizemos. Desdobrar em outra cara que seja parecida com esta, mas que esteja dizendo mais coisas.”

Acha – Você tem uma ligação muito forte com as artes visuais e a moda e trabalha com o fotógrafo Gianfranco Briceño. Como funciona esta difusão de imagens e dos seus looks inseridos neste contexto?

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Foto: Gianfranco Briceño.

Pethit – “Estas coisas são todas muito espontâneas. Essa coisa dos looks por exemplo. A minha grande ligação com moda sempre foi e cada vez mais tem sido explorar minha linguagem com artista. Todas estas fotos que fiz com o Gianfranco para o ‘Estrela Decadente’ envolviam a construção de um ícone.

Eu conversava com Gian para a gente criar uma imagem de estúdio, de um ser humano que fosse extra humano. As fotos foram inspiradas no trabalho do Richard Avedon nos anos 70, com um fundo branco de estúdio. Acho que ele pensava naquele momento: ‘Se eu tivesse que deixar um laboratório do que foi um ser humano nos anos 70, para o mundo’ Então ele colocou uma pessoa dentro de um estúdio branco e no futuro você enxerga este laboratório. Isto torna o ser humano um pouco irreal, um pouco ícone, mais do que um ser humano.

A gente construiu toda esta ideia de imagem, ao mesmo tempo em que construo com o João Pimenta os figurinos que tenham as cinturas altas, que remetem não só a uma época, dos anos 40 e 70, mas também remete a este corpo de um ser humano meio irreal, que a roupa desenha. Vira mais que um ser humano. Tudo isto é muito natural. Eu nunca me junto e sento com estas pessoas e falo: ‘Vamos fazer este trabalho desta forma.’ Eu sou amigo destas pessoas e a gente conversa sobre isto. Desdobramentos específicos eu não sei, mas tudo acaba reverberando de algum jeito dentro da minha história, a cada novo contato.”

O Acha Brasília sorteia dois pares de convites para o show.

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RG

para achabrasilia@gmail.com

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Serviço: Thiago Pethit no Palco Criolina

Data: 1º de abril (segunda)

Local: Bar do Calaf – Setor Bancário Sul, quadra  2, Edifício Empire Center, Térreo

Horário: 23h

Show: Thiago Pethit

DJs: Barata, Oops, Pezão e Nagô

Couvert artístico: R$ 20
Classificação indicativa: 18 anos

Informações: 81114627 / 82504999

*A casa abrirá às 20h.

Foto: Gianfranco Briceño.