Mestre, ícone, referência e fundamento são apenas algumas dos termos que tentam se aproximar do fenômeno Hugo Rodas, um ser multifacetado que reafirma o sol em Gêmeos por onde passou e ainda passa. Gênios não morrem e se eternizam em um rizoma de desdobramentos.
Hoje é um daqueles grandes dias que certamente vai lotar a sessão da Mostra Brasília, às 18 horas, no Cine Brasília, com a estreia de “Rodas de Gigante”, debut da poderosa Catarina Aciolly como roteirista e diretora em longas-metragens.
O filme é traduzido pelo ‘improviso poético’ que reverência a trajetória do multifacetado diretor de teatro latino-americano Hugo Rodas.
Pupila do (multi)artista que morreu aos 82 anos em abril de 2022, no Distrito Federal, Catarina Accioly registrou no Brasil – onde Rodas viveu por mais de 40 anos – e no Uruguai – terra natal do diretor -, os ‘surpreendentes quatro últimos anos de sua vida’ dedicada à arte, no qual Hugonarra em primeira pessoa a despedida como icónico diretor teatral.
Na tela se expõem fragmentos dos últimos quatro anos da intensa vida do artista uruguaio Hugo Rodas, um dos mais importantes diretores de teatro da América Latina. Rodas foi uma explosão criativa nas artes e nas suas relações pessoais, temas que se fundem eternamente.
Catarina Accioly acompanhou in loco momentos e situações vividas em intimidade e publicamente por Rodas, entre 2018 a 2022, recortando fragmentos de sua rotina teatral e afetiva, conexões com suas inúmeras redes afetivas e profissionais, dos 79 aos 82 anos, entrelaçados com a pandemia de Covid-19 e a luta que o artista travou contra um câncer no intestino.
“Certamente eu não teria trilhado passos de autoralidade que me conduziram à roteirista e diretora de cinema se tivesse outra trajetória. Se não fosse formada por um homem tão genuíno, encantador e talentoso como Hugo Rodas”, afirma Catarina Accioly.
A diretora diz que começou a documentar Rodas no seu aniversário de 79 anos, e que a estruturação do documentário se deu por meio do relacionamento com o personagem central do documentário, na reverberação de ‘conflitos muito profundos de morte e vida, de permanência e relação por meio da arte, do mundo normal ao pandêmico’.
“Estrear como roteirista e diretora em longas metragens com este documentário é um enorme desafio. Dirigi um filme que narra em primeira pessoa a despedida de alguém que é muito importante para o teatro, para muita gente e, especialmente, para mim. Hugo foi meu maestro e professor, cúmplice e carrasco, amigo contraditório de toda uma vida”. Revel
Radicado no Brasil desde os meados dos anos 1970, Hugo Rodas atuou como ator, diretor, bailarino, coreógrafo, cenógrafo, figurinista e professor de teatro. Estabeleceu-se no Distrito Federal em 1975, e consolidou-se como um dos diretores mais expressivos e inquietos do país.
Alguns dos maiores sucessos de público e crítica da história do teatro e da dança de Brasília têm a assinatura de Hugo Rodas: Senhora dos afogados (1987), A casa de Bernarda Alba (1988/91), A menina dos olhos (1990/91), Romeu e Julieta (1993/99), O olho da fechadura (1994/95), The GlobeCircus (1997), Shakespeare in concert (1997), Arlequim: servidor de dois patrões (2001/02), Rosanegra – uma Saga Sertaneja (2002/05), O rinoceronte (2005/2006) além do memorável Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo (2005-2015).
No Planalto Central, Rodas fundou o Grupo Pitú (1976-1981), com o qual apresenta vários espetáculos, entre os quais o clássico Os Saltimbancos, contemplado com o Prêmio do Serviço Nacional do Teatro como melhor espetáculo infantil de 1977.
No início dos anos 1980, trabalhou no Teatro Oficina, com o diretor José Celso Martinez Corrêa, e no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), com o diretor Antônio Abujamra (1932-2015), com quem fez diversas parcerias em direção teatral ao longo da vida, entre elas Senhora Macbeth (2006), com Marília Gabriela, Os demônios (2006), do escritor russo Fiodor Dostoiévski, e Cantadas (2007), monólogo com a atriz Denise Stoklos.