“Tesouros Ancestrais do Peru” apresenta peças raras que revelam o cotidiano de povos andinos no CCBB Brasília

De 28 de maio a 11 de agosto.

Depilador cerimonial
Era utilizado principalmente pelos homens para remover pelos faciais. Ouro.
200 a.C – 700 d.C
Estilo Frias, Costa Norte de Perú
Créditos: Museo Oro del Perú – Armas del Mundo | Fundación Miguel Mujica Gallo.

O CCBB Brasília recebe, a partir de 28 de maio, a exposição Tesouros Ancestrais do Peru. Sucesso no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, a exposição que chega ao CCBB é uma viagem no tempo e um convite para o público conhecer de perto a história e cultura das antigas civilizações andinas. São 162 peças datadas entre 900 a.C e 1600 d.C, a grande maioria em cerâmica, cobre, ouro, prata e têxteis. A entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados na bilheteria ou pelo site: http://bb.com.br/cultura.  

Divida por cinco blocos temáticos – Linha do Tempo, Mineração, Divindades e Rituais, Cerâmica e Têxteis e Colonização –, o conjunto raro de objetos descobertos em diversas expedições arqueológicas é reconhecido como patrimônio pelo Ministério da Cultura do Peru, pertence à Fundação Mujica Gallo, e faz parte do catálogo do Museo Oro del Perú y Armas del Mundo. Em cartaz até 11 de agosto, a mostra é patrocinada pelo Banco do Brasil e BB Asset Management, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A organização é da Arte A Produções.

Coroa de penas
A armação é feita de uma estrutura de cana que foi coberta com um tecido de algodão. A parte externa é decorada com penas turquesa, amarela, roxa e vermelha.  Elas têm um design suspenso e, na parte inferior, há duas fitas de algodão que são usadas para prendê-las à cabeça. Penas, algodão.
Cultura Chimu, Costa Norte do Peru
900-1450 d.C.

Também conhecido como Tahuantinsuyo, ou “Terra de Quatro Regiões”, na língua quechua, o Império Inca foi a maior e mais importante reunião de culturas da América antiga. Com base em Cusco, sede política localizada no atual Peru, era formado por diversos povos e atingiu, em seu auge, cerca de 12 milhões de habitantes. Politeístas, os incas conseguiram, entre 1438 e 1532, unificar, seja pela força ou por alianças, sociedades da região costeira do Oceano Pacífico e da cordilheira dos Andes.

Espalhados por um território estimado em 4 mil quilômetros, que ia do sul da Colômbia até partes do Chile e da Argentina, passando por todo o Equador, Peru e Bolívia, os povos da região tinham em comum o domínio de técnicas sofisticadas de administração, mineração, irrigação, agricultura, cerâmica, produção têxtil e arquitetura. O mais conhecido e visitado desses territórios é Machu Picchu, um dos poucos não destruídos completamente durante o processo de colonização.

Traje de dançarino
Prata.
Século XVI.

Na mostra, traços culturais dos povos andinos são revelados em utensílios como depiladores, bolsas, penachos, máscaras funerárias e coroas feitas de ouro. Há também módulos dedicados à cerâmica e aos objetos têxteis, como jaquetas, gorros e sapatos. No acervo estão ainda Tumis, espécies de facas ornamentais usadas durante cerimônias de sacrifícios de animais e, em casos excepcionais, de humanos.

“O desenvolvimento de todas essas culturas revela um acúmulo histórico notável de conhecimentos e a maestria em diversas técnicas e ofícios, refletidos na elegância e complexidade das peças apresentadas. A habilidade na mineração e na confecção de objetos feitos de ouro, prata, cobre e outros minerais atinge um nível de sofisticação excepcional, mesmo nas civilizações mais antigas”, explicam Patricia Arana e Rodolfo de Athayde, que assinam a curadoria da exposição.

Escultura
Objeto constituía parte de um conjunto funerário. Ouro.
Estilo Frias, Costa Norte do Perú
200 a.C – 700 d.C.

No primeiro bloco, Linha do Tempo, são pontuados os momentos-chave de mais de 10 mil anos de história andina, desde os primeiros habitantes (pescadores e caçadores) até o surgimento da agricultura de irrigação. Essa evolução permitiu que essas populações desenvolvessem um alto nível tecnológico, dedicando-se à produção cerâmica, à metalurgia e têxteis, alcançando um notável desenvolvimento cultural.

Tumi ou faca cerimonial, com uma representação antropomórfica do deus Lambayeque chamado NaylampOuro, crisocola.
Cultura Lambayeque
Costa Norte do Peru
900-1450 d.C.

Já o segundo bloco, Mineração, aborda o domínio sobre os metais, o controle sobre o ambiente natural e, consequentemente, seu impacto nas dinâmicas das estruturas do poder. Trata-se de um aspecto fundamental do desenvolvimento dos povos que utilizavam ferramentas diversas para extrair e utilizar cobre, ouro e prata, produzindo objetos de notável elaboração.

Penacho
Representa uma figura ornitomorfa com asas estendidas. Ouro.
Cultura Nasca, Costa Sul do Peru
200 a.C – 400 d.C.

Na área Divindades e Rituais é possível conhecer peças em ouro e prata, cerâmica e frisos de personagens divinos e semidivinos, que orientavam o sistema teocrático-militar operado a partir de complexas cosmovisões fundadoras das culturas andinas.

Os metais eram usados para decorar edifícios, adornar corpos e vestes reais em rituais e oferendas funerárias. Um detalhe é que só as pessoas pertencentes à elite podiam usar ouro. Nesta área são expostas máscaras e luvas feitas do mineral, além dos Tumis e dos recipientes usados em rituais sagrados, como os utilizados para recolher o sangue dos seres sacrificados.

Luva (mãos direita e esquerda)
Ouro.
Cultura Lambayeque, Costa Norte do Peru
900-1450 d.C.

No quarto bloco, Cerâmicas e Têxteis, estão peças e informações sobre as técnicas utilizadas desde 1.800 a.C. para produção de barro moldado e cozido em fornalha. Essas técnicas permitiram uma produção intensa de utensílios usados também para expressar ideias e representar estilos de vida e tradições. Também é mostrada a importância da domesticação de animais como lhamas e alpacas para a produção têxtil e artística.

Garrafa
Cerâmica.
Cultura Recuay
Serra Norte do Peru
200 aC-400 d.C,

A seção Colonização trata da história da colonização do império Inca pelos espanhóis e a fundação do Vice-reinado do Peru. Esse bloco expositivo pretende mostrar a assimetria desse violento encontro de civilizações, que funda uma nova identidade sincrética e mestiça, sobre as ruínas do império Inca.

O percurso da exposição também conta com o Projeto Panaca que divulga, por meio de vídeos de desenhos animados, a história das culturas antigas do Peru. A série de filmes será exibida ao público e é parte do conteúdo educativo da mostra. 

Trombeta
Cerâmica.
Cultura Moche
Costa Norte do Peru
200-500 d.C.

A mostra conta com obras contemporâneas propondo um olhar que amplia a leitura do acervo, a fim de provocar uma visão crítica e reflexiva sobre a representatividade das peças.

O legado e o compromisso com a preservação de conhecimentos ancestrais afloram na cuidadosa réplica contemporânea do “Quipu de Nasca”, elaborada pelo arqueólogo Alejo Rojas. O instrumento também é tema na obra “Quipucamayoc”, de Alexandra Grau, uma recriação de quipus coloridos, que aludem a essas ferramentas de registros e contabilidade dos Incas. Os diferentes nós feitos nas cordas criam uma linguagem que guarda a história dessa cultura.

Coroa
Estilo Frias. Ouro, crisocola.
Costa Norte do Peru
200 a.C – 700 d.C.

O videoarte “Técnicas de deformação plástica” de Bete Esteves e Beth Franco utiliza imagens das técnicas de mineração e trabalho nos metais para criar uma relação com os métodos violentos narrados pelos protagonistas.

O peruano Iván Sikic, apresenta a obra “Saqueo” (Pilhagem). Sua referência são os diferentes momentos da história em que a extração compulsiva do ouro gerou um significativo impacto cultural ou ecológico. A instalação questiona o legado colonial e os efeitos da mineração ilegal do ouro até a atualidade.

Chapéu
Cultura Wari. Fibra de camelídeo.
Serra Sul do Peru
500-800 d.C.

As peças da exposição são raras em diversos sentidos. Quase tudo o que havia em território inca foi destruído, roubado ou derretido. Posteriormente, também foi saqueado por assaltantes de monumentos arqueológicos, conhecidos no Peru como huaqueiros, que reviraram tumbas e centros cerimoniais em busca de peças a serem vendidas ilegalmente a colecionadores.

Dos poucos objetos que sobreviveram, os mais comuns são oferendas funerárias compostas por pequenas figuras de ouro e prata de mulheres e homens. Essas figuras parecem representar os jovens que acompanhavam os mortos em seus processos funerais: em geral, ficam de pé, têm as mãos sobre o peito ou seguram objetos como leque ou espiga de milho. Algumas dessas imagens foram encontradas em sítios arqueológicos vestidas com tecidos e penas.

Taça cerimonial
Cultura Inca
Serra Sul do Peru
1450-1572 d.C.

“As peças que resistiram ao período da voracidade dos colonizadores e dos huaqueiros foram encontradas posteriormente em escavações arqueológicas. Não temos ideia do que se perdeu. Até as construções espanholas foram edificadas sobre monumentos e locais incas, uma amostra clara da necessidade de legitimar o seu poder”, explica o curador, Rodolfo de Athayde. “A história dessas peças é a história viva do desenvolvimento das civilizações andinas até o império inca, o mais importante que já se formou nas Américas”, completa.

Máscara e Coroa 
Cultura Vicus. Cobre dourado.
Máscara feita de uma única folha. Os olhos e a boca são abertos e de formato oval. O nariz tem formato trapezoidal e é feito de outra folha. A máscara foi decorada com setenta e sete pingentes discoidais distribuídos por toda a máscara.
Coroa feita com a técnica de cobre dourado. A base é feita de três folhas, sendo que a parte superior tem dois elementos que se assemelham aos chifres de um cervo, na forma de tufos. Esses elementos têm vinte e nove pingentes discoidais e a base tem cento e quinze pingentes.
Costa sul do Peru
200 a.C-400 d.C

Tesouros Ancestrais do Peru
De 28 de maio a 11 de agosto, das 09h às 21h (entrada nas galerias até 20h40)
Galerias 2, 3 e 5
CCBB Brasília (SCES Trecho 02 Lote 22 – Setor de Clubes Sul)
Entrada franca
Classificação indicativa: livre
Ingressos | em www.bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB Brasília