Filhos de Gandhy, Ilê Aiyê, Ellen Oléria e Dhi Ribeiro se unem no projeto Kindembu.

Foto; Tiago Lima. Divulgação.
Foto; Tiago Lima. Divulgação.

O espetáculo cênico-musical Kindembu une cinco entidades afros da música baiana e convidados locais numa celebração da tradição do cancioneiro afro. A Caixa Cultural recebe o projeto no dia 12 de agosto (quarta), às 20 horas.

No palco, a linguagem e a relevância do Afoxé Filhos de Gandhy, Cortejo Afro, Ilê Aiyê, Malê Debalê e Muzenza em diálogo criativo com músicos de Brasília. Interagindo com cada um dos blocos estarão as cantoras Ellen Oléria, Dhi Ribeiro e Teresa Lopes, o rapper Japão e o grupo de samba Filhos de Dona Maria, com direção geral de Elísio Lopes Jr.

Ellen Oléria. Foto: Diego Bressaini.
Ellen Oléria. Foto: Diego Bressaini.

Estabelecer pontes entre o tradicional e o moderno, entre as possibilidades estéticas e a ancestralidade. Este é o conceito-chave do espetáculo, que leva o nome de Kindembu, o Nkisi Tempo, como também é chamado (Nkisi é o mesmo que Orixá nos candomblés de Angola e do Congo). Um palco alvo – como a bandeira que representa o Senhor do Tempo – vai ganhar as cores e as formas dos blocos afros e suas tradições. A apresentação é uma oportunidade de ver re-significada a possibilidade musical gerada pela história desses blocos, que possuem suas trajetórias na militância negra.

A reverberação da tradição musical afro-baiana será explicitada nos encontros entre as entidades afros com alguns nomes da música contemporânea de Brasília, num mix de sonoridades e timbres, em pílulas mistas de sons convergentes, tradição e reverência, retratando a caminhada da arte negra na Bahia. “Acho que é hora de os blocos afros também beberem nas estéticas dos novos artistas”, arrisca o diretor Elísio Lopes Jr., para quem a palavra de ordem é trocar. “Não é um espetáculo que se encerra no show. É uma proposta de troca contínua, de redescobertas”.

Foto: Tiago Lima.
Foto: Tiago Lima.

Em Kindembu, a dança funciona como elemento de ligação cênica, com coreografias de Zebrinha e performances de bailarinos dos blocos afros, além de convidados de outras vertentes da dança. Também em diálogo com a música, as artes visuais vão emoldurando o espaço da celebração, explorando as possibilidades cênicas e sonoras. No cenário, formas e texturas se transformam de acordo com cada momento do show. Projeções do VJ Dexter a partir do trabalho do fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos interagem com o cenário, trazendo reminiscências de um Brasil atemporal e de uma África mítica.

A concepção dos figurinos de músicos, cantores e bailarinos fica a cargo de Alberto Pitta. Artista visual e presidente do Cortejo Afro, Pitta criou peças exclusivas com o conceito monocromático, enfatizando as formas e os símbolos de cada bloco. Ele explica que os figurinos são a mais justa adequação daquilo que chama de “a estética elegante da gente do povo”. “São batas, saias, calças, túnicas, turbantes, panos da costa, torços e colares, todos com a predominância do branco da paz de Oxalá, entrecortados com simbologias milenares de África, estampadas nos panos dos blocos afros e afoxés e suas representações”, descreve.

BLOCOS E ARTISTAS

AFOXÉ FILHOS DE GANDHY
Criado em 1949, por estivadores do porto de Salvador, tem nome que faz homenagem ao líder hindu Mahatma Gandhi, assassinado um ano antes, em 1948. O bloco inspira-se nos princípios da não-violência e de paz pregados por Gandhi. No primeiro ano, desfilaram apenas 36 participantes, todos homens. Hoje, arrasta multidões às ruas de Salvador. Tendo o candomblé como orientação religiosa, a música é ritmada pelo agogô, com cantos de ijexá na língua iorubá.

CORTEJO AFRO
Bloco criado em 1998, dentro de um terreiro de candomblé, o Ilê Axé Oyá, sob inspiração e orientação espiritual de Mãe Santinha. É caracterizado por roupas exuberantes, idealizadas pelo artista plástico Alberto Pitta, e coreografias ricas em movimentos. Nos figurinos, predominam as cores branca, azul e prata, cores de Oxalá. E os grandes sombreiros visam relembrar o visual dos reinados das tribos africanas, especialmente da Costa do Marfim e do Benim.

ILÊ AIYÊ
O mais antigo bloco afro do Brasil tem caráter político, de afirmação e valorização da cultura afro-brasileira. Ao som de atabaques e tambores, desde sua fundação, em 1974, vem homenageando países e culturas africanos. Seu movimento rítmico musical foi responsável por uma verdadeira revolução no carnaval de Salvador.

MALÊ DEBALÊ
Bloco afro criado em 1979 por moradores de Itapuã que desejavam ver o seu bairro representado no carnaval de Salvador. O nome é uma homenagem à população descendente dos malês, povo de origem africana e religião muçulmana. O Malê tem na dança e na música um elo forte com a tradição cultural herdada da cultura afro, mesclada com o viver popular e o mental coletivo contemporâneo de sua comunidade praieira. É considerado o maior balé afro de rua do mundo.

MUZENZA
O Bloco Afro Muzenza do Reggae nasceu no bairro da Liberdade, em 1981, como um tributo a Bob Marley e inspirado no legado cultural dos afro-jamaicanos e suas mensagens libertárias que invadiram o Brasil nos anos 1980, aproximando os afro-baianos desta realidade similar. Muzenza é um termo de origem bantu-kikongo que significa Yaô do Nagôs, nome dados aos iniciados no candomblé de linha de Angola. Sua banda percussiva trabalha a fusão de elementos do suingue afro-baiano ao reggae jamaicano, o que deu origem ao samba-reggae.

PLATAFORMA MUNDO AFRO

O espetáculo Kindembu, realizado em Salvador em 2013, foi seminal para o desenvolvimento da PLATAFORMA MUNDO AFRO, que reúne essas cinco entidades numa empreitada que conjuga criatividade e empreendedorismo. Com a realização conjunta de carnaval e ensaios nos últimos dois anos, ancorados na criatividade e mobilização empreendedora, e da previsão de outras ações – como festivais, mostras e shows coletivos – a plataforma tem como objetivo valorizar a produção artística dessas entidades.

Na etapa mais recente do projeto, 25 oficinas foram realizadas nas sedes de cada entidade, tangenciando os diversos aspectos da cultura e tradição afro, desde a música até a moda. As turmas – compostas por 30 alunos – tiveram aulas durante seis meses. A formação incluiu aulas sobre história das entidades, história afro-baiana, sustentabilidade, meio ambiente e empreendedorismo.

Rapper Japao - foto Ivan Lacombe
Serviço: Kindembu – com Afoxé Filhos de Gandhy, Cortejo Afro, Ilê Aiyê, Malê Debalê e Muzenza e convidados
Data: 12 de agosto (quarta) às 20 horas
Local: Caixa Cultural Brasília (SBS Quadra 4 Lotes 3/4)
Ingresso: R$20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia)
Classificação indicativa: 18 anos
Informações: 61 3206-9448 e 3206-9449.

Rapper Japão. Foto: Ivan Lacombe.