As quatro estatuetas do Oscar de Hollywood obtidas pelo filme sul-coreano Parasita – melhor filme, filme internacional, direção e roteiro original – mantêm o longa em cartaz no Cine Brasília até domingo (16 de fevereiro), no horário nobre, às 20:15.
A história da família de desempregados que cava oportunidades de trabalho passando por cima de outras pessoas, mentindo e tramando – e que já havia dado ao diretor Bong Joon-ho a Palma de Ouro de Cannes em 2019 – sinaliza para o que muitos veem como uma crítica do diretor ao capitalismo selvagem em curso no mundo.
A tese de que uma revolta dos excluídos gerados pelas desigualdades do capitalismo no mundo teria se transformado em algo com apelo universal, traço comum entre películas como “Parasita”, “Bacurau” e “Coringa”, para citar três produções do ano passado, é algo que chama a atenção do diretor pernambucano Juliano Dornelles, que assina “Bacurau” ao lado de Kléber Mendonça, filme de maior bilheteria em 2019 no Cine Brasília. “De fato, esses filmes têm um parentesco entre eles e parecem refletir uma energia que está pairando sobre o mundo”, formula Dornelles.
O diretor aponta também outros dois elementos que podem explicar as estatuetas dadas ontem a “Parasita”. “Tenho a impressão de que a Academia de Hollywood está tentando se abrir ao mercado asiático, conquistar espaço lá”, acredita. Ressalta também o investimento do governo sul-coreano em produções culturais, apoiando a indústria nacional. “É algo que deveria nos inspirar aqui. O Oscar que receberam é resultado de um trabalho bem feito”, avalia.
“Parasita é uma crítica potente não só ao capitalismo, mas principalmente ao modo como abraçamos tudo que ele impõe, muitas vezes sem questionamentos. O que torna este filme tão único é que ele não faz uma crítica direcionada ao sistema em si, ele aponta o dedo para o espectador. Não diria que se trata da revolta dos excluídos necessariamente, vejo-o mais como uma tomada de consciência dos excluídos, o que é ainda mais interessante. Foi um momento histórico ver um filme tão contundente ser consagrado em Hollywood”, comenta o diretor brasiliense Gustavo Galvão, à frente de “Ainda temos a imensidão da noite”, em cartaz até quarta-feira (12) no Cine Brasília.
“Agora que as pessoas vão querer mesmo ver ‘Parasita’”, diz a cineasta Anna Karina de Carvalho, crítica da arte, curadora da 52ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro no ano passado. Ela elogia no filme “o roteiro de primeiríssima”, direção, atuações e temática. “Pessoalmente, concordo que foi o melhor filme do ano passado, talvez da década”, afirma.
“Inaudito” – A telona do Cine Brasília vai abrir ainda espaço exclusivo para um filme de corte mais experimental. Trata-se de “Inaudito”, do diretor paulista Gregório Gananian, autor de videoclipes, curtas e projetos intermídias. O documentário conta a trajetória do guitarrista Lanny Gordin, cujo som eletrizou estrelas do porte de Gal Costa, Caetano Veloso e Jades Macalé. A prestigiosa revista “Rolling Stones BR” publicou há seis anos uma lista com os 30 maiores guitarristas de todos os tempos e incluiu nela o nome de Gordin.
Continuam na programação do Cine Brasília até domingo os brasileiro “Inferninho” e o documentário polonês “Com amor Van Gogh – O sonho impossível”.
Programação de 13 a 16 de fevereiro:
15:30 – “Com amor Van Gogh – O sonho impossível”
16:45 – “Inferninho”
18:30 – “Inaudito”
20:15 – “Parasita”
Fichas técnicas, sinopses e trailers dos filmes:
“Parasita” (título original Gisaengchung)
De Bong Joon-ho (2019, Coreia do Sul, ficção/suspense, 132 minutos, 16 anos)
Elenco: Kang-ho Song, Sun-kyun Lee e Yeo-jeong Jo
Sinopse: Todos os quatro membros da família Ki-taek estão desempregados, porém uma obra do acaso faz com que o filho adolescente comece a dar aulas privadas de inglês à rica família Park. Fascinados com o estilo de vida luxuoso, os quatro bolam um plano para trabalhar na casa burguesa. É o início de uma série de acontecimentos incontroláveis dos quais ninguém sairá ileso.
“Inaudito”
De Gregório Gananian (2017, Brasil, documentário, 88 minutos, 10 anos)
Elenco: Lanny Gordin, Dou Hei Mu e José Roberto Aguilar
Sinopse: O guitarrista Lanny Gordin foi um dos personagens fundamentais na transformação da música brasileira a partir da década de 60: eletrizou Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé entre outros. Ele revela seu processo libertário de composição e pensamento atual, embarcando em uma insólita odisseia pela China, local de nascimento, e Brasil, país onde vive.
“Inferninho”
De Guto Parente e Pedro Diógenes (2018, Brasil, comédia dramática, 82 minutos, 12 anos)
Elenco: Yuri Yamamoto, Démick Lopes e Samya de Lavor
Sinopse: Deusimar (Yuri Yamamoto) é a dona do Inferninho, bar que é um refúgio para devaneios e fantasias. Ela sonha em deixar tudo pra trás e ir embora. Jarbas (Demick Lopes), o marinheiro que acabara de chegar, sonha em ancorar e fincar raízes. O amor que nasce entre os dois vai transformar por completo o cotidiano do bar e a vida dos frequentadores.
“Com amor Van Gogh – O sonho impossível” (título original: “Loving Vincent – The impossible dream”)
De Miki Wecel (2019, Polônia, documentário, 60 minutos, 10 anos)
Sinopse: Um documentário que mostra em detalhes a difícil jornada de dois cineastas para atingir um sonho que parecia impossível: criar “Com amor, Van Gogh”, o primeiro longa de animação da história feito completamente com pinturas.
Cine Brasília (EQS 106/107 – Asa Sul)
Ingressos: R$ 12,00 (inteira). Bilheteria só aceita dinheiro, não cartões.
Telefone: (61) 3244-1660.